Efeito da fragmentação sobre a persistência de anfíbios anuros (Amphibia: Anura) na Mata Atlântica

Trabalho de Conclusão de Curso, onde testamos o efeito da estrutura da paisagem, em escala regional, sobre a persistência na paisagem de espécies de anuros florestais com reprodução terrestre

Resumo

Anfíbios são organismos sensíveis à perda da quantidade e qualidade de habitat, dado sua limitada locomoção em relação a grandes distâncias e alta dependência de microhabitat para a reprodução. A Mata Atlântica apresenta 543 espécies de anfíbios conhecidas, sendo que 472 espécies (88%) são endêmicas. Porém, atualmente esse bioma apresenta entre 11,4% a 16,0% de sua extensão original, com 80% de fragmentos menores que 50 ha, isolados e com baixo índice de conectividade. Sendo assim, entender como o processo de fragmentação influencia a persistência de anfíbios na Mata Atlântica é essencial para o desenvolvimento de estratégias adequadas para a conservação das espécies. Este trabalho testou o efeito da estrutura da paisagem, em escala regional, sobre a persistência das espécies Vitreorana eurygnatha e V. uranoscopa. As duas espécies possuem habitat florestal e reprodução aquática, e por isso são potencialmente mais sensíveis ao processo de fragmentação. Para o desenvolvimento do estudo, foram realizadas as seguintes etapas: (i) organização de um banco de dados de levantamentos de anfíbios para o Bioma da Mata Atlântica; (ii) modelagem da adequabilidade de habitat das espécies de interesse para o mesmo bioma; (iii) identificação das paisagens (quadrículas de 2, 5 e 10 km) com alta adequabilidade ambiental e com levantamentos com elevado esforço amostral, a fim de caracterizar as espécies de anfíbios regionais; (iv) avaliação da contribuição relativa dos índices da paisagem (porcentagem de cobertura florestal, conectividade estrutural e funcional) para a persistência das espécies, utilizando seleção de modelos por múltiplas hipóteses concorrentes com base no Critério de Informação de Akaike. Os resultados sugerem que os modelos porcentagem de cobertura florestal e conectividade estrutural e funcional foram plausíveis para explicar a persistência da espécie V. eurygnatha sendo a escala fina (2x2 km) a mais adequada. Para V. uranoscopa, a melhor escala também foi a de 2x2 km, mas o modelo de conectividade funcional foi o mais plausível, corroborando a hipótese inicial (maiores valores de conectividade resultariam em maiores valores de persistência). Na escala intermediária (5x5 km), todos os modelos se tornaram plausíveis para V. eurygnatha, e a persistência deixou de ser explicada pelas variáveis preditoras; já para V. uranoscopa, o modelo mais plausível foi o da conectividade estrutural, cujo resultado também corroborou com a hipótese inicial. Por fim, para a escala grosseira (10x10 km), novamente todos os modelos foram plausíveis para V. eurygnatha; e para V. uranoscopa, o modelo mais plausível foi novamente, a conectividade funcional, de modo que também houve corroboração da hipótese inicial. Esses resultados demonstram que o grupo dos anfíbios são mais sensíveis às mudanças de habitat em escalas finas, e que a conectividade, segundo os modelos analisados, é um fator determinante para garantir a persistências destas espécies para o Bioma da Mata Atlântica. Dessa forma, atenta-se para a importância do direcionamento dos programas de restauração visando aumentar os índices de conectividade entre os remanescentes do bioma da Mata Atlântica através de corredores funcionais, a fim de assegurar a manutenção das populações de anfíbios em longo prazo.

Postado em:
1 March 2015
Comprimento:
3 minutos de leitura, 494 palavras
Categorias:
Tese
Tags:
Adequabilidade de habitat Conservação da biodiversidade em ampla escala Multiescala Ecologia espacial Conectividade
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